O lipedema foi considerada uma doença pela Organização Mundial de Saúde em 2019. É uma doença crónica sem cura, mas é possível tratar o lipedema ao reduzir sintomas, aliviando os desconfortos de viver com esta doença.
1. Por que razão me dói quando toco nas minhas pernas?
É comum, para quem tem esta doença, sentir dor ao toque ou na palpação das suas pernas. Este sintoma está relacionado com alterações no tecido adiposo e na circulação sanguínea.
O tecido adiposo é um orgão metabólico e, por isso, produz hormonas e moléculas sinalizadoras. No lipedema, esta sinalização está alterada e as células produzem de forma desproporcional substâncias inflamatórias. Por isto, o lipedema envolve inflamação.
Associadas a uma alteração no próprio processo de limpeza do sistema linfático, consequência da própria doença, a existência destas substâncias inflamatórias, promove o inchaço e a retenção de líquidos.
Desta forma, com uma maior pressão nos nervos e nos tecidos, a pele fica mais sensível ao toque provocando dor.
2. "Tenho lipedema e a minha pele é muito flácida"
A flacidez é outra característica aparente e física de quem tem lipedema. Isto acontece porque o lipedema também afeta o tecido conjuntivo, que é responsável por unir, proteger e sustentar os outros tecidos.
Com esta função fragilizada, pessoas com esta doença têm maior tendência para flacidez na pele, para hiperlaxidão ligamentar, escoliose, pé plano e aumenta, ainda, o risco de lesões durante o exercício físico.
De referir ainda alguns estudos* que indicam que pessoas com lipedema têm menos força e massa muscular, daí também uma maior dificuldade na resposta ao exercício físico e uma maior flacidez.
3. O tratamento conservador é o caminho mais eficaz
Como já referimos, o lipedema não tem cura. É uma doença crónica e progressiva. Ainda assim, não ter cura não significa que não existam abordagens terapêuticas com o objetivo de atenuar sintomas, aliviar desconfortos e prevenir o agravamento do grau de lipedema.
Há duas principais abordagens: a cirúrgica e a conservadora.
A cirúrgica é aquela que, através da cirurgia plástica de lipoaspiração, remove o excesso de gordura acumulada, aliviando os sintomas de dor, peso e cansaço derivado deste volume em excesso. Apesar de aparentar ser uma resolução imediata, é uma doença crónica, com várias causas, tais como a genética, pelo que a realização da cirurgia não invalida que o acúmulo de gordura não volte a surgir.
A abordagem conservadora é, para nós, a mais eficaz. É uma abordagem que procura sobretudo melhorar o estilo de vida por forma a que a paciente aprenda estratégias de autocuidado, que deve ser diário. Esta abordagem inclui intervenções em várias áreas da saúde, nomeadamente:
- Nutrição, procurando uma dieta anti-inflamatória, por forma a desacelerar o processo de inflamação do organismo;
- Fisioterapia Dermatofuncional, através de sessões de drenagem e endermologia individualizada, estimulando o sistema linfático;
- Uso de meias de compressão e de escova para estimular a circulação sanguínea e o sistema linfático, aliviando o inchaço, a retenção de líquidos e, consequentemente, a dor;
- Exercício físico, nomeadamente a natação;
- Modulação hormonal, caso se verifique, após avaliação médica, que o desequilíbrio hormonal é a causa para o seu agravamento;
- Psicologia, enquanto acompanhamento fundamental na vivência diária e permanente com uma doença que afeta a autoimagem e a autoestima da mulher.
4. Lipedema e Linfedema não são a mesma coisa
O linfedema é uma doença que ocorre quando há alterações no sistema linfático, em que o líquido linfático não consegue ser drenado e, por consequência, fica acumulado nos tecidos. Visualmente é possível diferenciá-las na medida em que o linfedema afeta apenas um dos membros, enquanto no lipedema o impacto da doença é bilateral e simétrico.

5. Uma pessoa com um estilo de vida saudável pode ter lipedema
Reconhecida em 2019 pela OMS, é uma doença crónica com causas ainda pouco definidas. Contudo, a hereditariedade, a genética e os desequilíbrios hormonais têm um papel efetivo no surgimento do lipedema.
Obviamente que uma mulher com um estilo de vida saudável, que pratica exercício físico e tem uma boa gestão do seu sono e stress, possivelmente não sentirá os mesmos desconfortos e sintomas que uma mulher sem esses hábitos tem. Mas isso não significa que não tenha lipedema ou que não precise de dar atenção a essa condição.
Por outro lado ainda, o lipedema está muito associado à obesidade e ao excesso de peso. Contudo, mesmo em mulheres magras, em que este aspeto volumoso não se verifica, esta condição pode incomodar.
É comum verificarmos o sinal do manguito, bolsas de gordura acima do joelho ou mesmo as pernas em formato de coluna, com pouca definição. Isto são sinais de lipedema e que não devem ser ignorados pois um estádio inicial pode evoluir para estádios mais avançados
Se desconfia de que o lipedema possa ser a resposta para muitos sintomas e para os quais até agora não tinha explicação, agende a sua consulta e avaliação. Numa abordagem multidisciplinar e única, disponibilizamos na nossa clínica todas as valências para um acompanhamento completo, das quais se destaca a certificação LPXP Lipedema pela Dr.ª Núria Gouveia, e a certificação no diagnóstico e identificação do grau e tipo de lipedema pela terapeuta Catarina Ferreira.
Artigos de referência:
- Standard of care for lipedema in the United States, https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34049453/
- Muscle strength and functional exercise capacity in patients with lipoedema and obesity: a comparative study, https://woundsinternational.com/wp-content/uploads/2023/02/5533ae1396c4c12f4fb190363a976aad.pdf
Dr.ª Marta Padilha
Médica de Medicina Geral e Familiar com Master em Medicina Anti-envelhecimento e Longevidade | Cédula Ordem dos Médicos nº44139
Dr.ª Núria Gouveia
Médica de Medicina Geral e Familiar com Master em Anti-aging e Longevidade e certificação LPXP Lipedema | Cédula Ordem dos Médicos nº43715